Publicado em 30/10/2018 - Notícia

Lei de proteção de dados pode atrair negócios

Valor Econômico

Inspirada no regulamento europeu de proteção de dados, em vigor desde maio, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) foi sancionada pelo presidente Michel Temer em agosto. A lei estabelece diretrizes para uso e transferência de dados pessoais no Brasil tanto por pessoas físicas quanto por empresas no setor público e privado.

As companhias têm 18 meses para se adequar às novas regras. Enquanto isso, startups que oferecem soluções de segurança, criptografia e combate a fraudes vislumbram um impulso aos negócios daqui para frente.

“Estamos animados com as demandas que têm surgido. A perspectiva para os próximos anos é de crescimento do mercado de segurança de identidade digital e proteção de dados”, afirma o analista de sistemas Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks.

Fundada em 2012, a startup desenvolve equipamentos e softwares que funcionam como repositórios e processadores de segurança, especificamente com soluções para criptografia e guarda de chaves eletrônicas. Os produtos são vendidos, alugados ou comercializados sob demanda.

Com 17 funcionários, a Dinamo atende cerca de 400 clientes, incluindo Banco Central, Caixa Econômica Federal e outras grandes instituições financeiras, além de médias e grandes empresas da indústria e do setor de serviços. “A partir do próximo ano, devemos expandir a operação para América Latina e Europa”, afirma Zanini. Para este ano, a startup espera dobrar o faturamento em relação a 2017 e almeja ultrapassar R$ 120 milhões em receita nos próximos cinco anos.

Há mais de 20 anos no mercado de cibersegurança e antifraudes, o engenheiro da computação Pedro Ivo Lima enxergou potencial para empreender e fundou, em junho de 2016, a PhishX. Trata-se de uma plataforma que simula phishing – tipo de golpe que leva pessoas a acessar sites ou e-mails falsos para roubo de dados pessoais, por exemplo.

Focado em grandes empresas, o modelo de negócios é SaaS (software como serviço). Ao todo, mais de 200 companhias utilizam a plataforma. BRF, Banco Original e Gerdau são exemplos de clientes. Além disso, a startup atende empresas em mais de 30 países, entre eles, Estados Unidos, Chile, China, Alemanha e França. A previsão para este ano é mais que dobrar o faturamento registrado em 2017.

Em operação desde agosto de 2014, a Konduto utiliza inteligência artificial para prever e barrar fraudes em pagamentos on-line. No ano passado, foram processados R$ 6,9 bilhões em transações de cartão de crédito na internet. Desse total, R$ 920 milhões corresponderam a compras feitas por fraudadores e acabaram barradas pela startup. “O pagamento on-line está crescendo, e acabamos indo com a onda. Sempre há fraude, e é uma realidade que não dá para ignorar”, observa Tom Kanabarro, co-fundador da Konduto.

Ao longo de quatro anos, a startup levantou R$ 700 mil com investidoresanjo e R$ 2,5 milhões junto ao fundo Criatec 2, gerido pela Bozano Investimentos, essa última rodada de captação em março. Com uma base de 200 clientes, desde pequenos e-commerces até empresas maiores – como Livraria Cultura e rede de calçados Constance -, a empresa faturou R$ 2,5 milhões no ano passado, quantia três vezes maior em relação a 2016. A meta é chegar ao fim deste ano com uma receita de cerca de R$ 6 milhões.

Ainda que possa impulsionar os negócios, casos de descumprimento da lei estarão sujeitos a advertências ou multa de até 2% do faturamento da empresa, limitada a R$ 50 milhões por infração. “Até então, a privacidade dos dados não era levada tão a sério no Brasil. Agora, as empresas vão precisar se organizar e mudar o ‘mindset’ de como tratam a questão dos dados”, avalia Ricardo Rodrigues, CEO da Social Miner, plataforma de automação de marketing que atende mais de 200 clientes, como Natura, Gafisa e Carrefour.

Na avaliação de especialistas, os pequenos negócios precisam se preparar o quanto antes para evitar problemas quando a lei entrar em vigor.

De acordo com a advogada Vanessa Pareja Lerner, do escritório Dias Carneiro Advogados, o primeiro passo é fazer um mapeamento de como a C empresa interage com dados pessoais, sejam informações dos funcionários, sejam de consumidores. “Com base nisso, ficará mais fácil de ver quais mecanismos precisarão ser adotados.”